quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Vivendo ao alcance da vista

Acelerar para morrer mais à frente
Acelerar para morrer mais tarde
Ou se chocar antes com o destino

Apagar mais um fogo feito um rino
Apagar sem saber o porquê
Às vezes, o fogo deve só arder

Sem saber se é homem ou bicho
Sem saber se há o que saber
E aquelas perguntas de menino
Crescem com o tamanho do saber

Bicho, homem, homem-rino
Ninguém nunca viu o destino
Se miopimente vai se vivendo,
Mais distante se avista o morrer

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Por fora

Prefiro pensar que o que está em voga,
só está, para nos livrar do tédio
Ainda assim, prefiro o tédio,
se ele for a confirmação de quem sou

Não sou manequim para as roupas;
sou o conteúdo das mesmas
Nascemos nus e sem estilo,
e parece que só nesta hora,
temos a licença poética de estarmos por fora

A marca do sapato mostra onde o homem pode pisar;
a marca da bolsa, mesmo vazia, enriquece a mulher

O visual vai sempre a júri popular

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Foco no fruto


Cantada número 3715

Que você não fique apenas
ao sabor do vento
que não te dá sabor algum
Alguma coisa quente
é o que nos move
como um mormaço por dentro
Gente tem sangue quente
não precisa lagartear
nem passar ao largo do prazer

Só a tua consciência é útil?
Você é racionalidade sem terminações nervosas?
Você lava todo o teu corpo impunemente?
Sem o teu corpo, onde moraria a tua moral?
Prazer é um palavrão?
Corpo é liberdade ou prisão?
A moral foi criada antes da descoberta do orgasmo?
Posso usar o teu corpo?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A complexa evolução sem verbo

A árvore, cheia de rachaduras e reentrâncias.
As rachaduras e reentrâncias, tão árvore.
Aos poucos, pau podre.
Partes negativas da árvore.
E as positivas, tão mais.

Eu, tão água, ar e algo podre.
Meu pó e o pó da árvore.
Antes evoluídos juntos.
Complexos diferentes.
Agora pó, iguais.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Não devo usar armas; não devo desperdiçar balas

Cerro os meus dentes.
Tiro da testa a franja insistente.
Me sinto um bárbaro.
Fico melhor em plano aberto na foto.
Apesar do mundo na foto.

Vou sair andando em linha reta.
Até que uma árvore me abrace.
Que ninguém me cumprimente.
Que ninguém fale da minha indiferença.
Não quero ninguém culpado quando eu me for.

A culpa é toda minha.
Mas não vou antes de responder perguntas.
Alguém tem que terminar o poema.
Não ficar bem no mundo é algo vago.
A última hipocrisia seria uma despedida com festa.

Meu super-poder seria corrigir os meus erros.
Só pessoas vestem camisas de salva-vidas.
Pessoas que são animais terrestres.
Minha arte é salvamento parcial que se salva.
Encontrado, deitado, apartamento quitado.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Vida tão humana

Não é pó nem osso.
Passagem de ida.
Ainda dá tempo.
Uma escolha errada.
Que seja, por dia.
Mas ainda dá.

Ainda me levanto.
Tenho fome e libido.
Beber é distração.
Parece destruição.
Escolha engarrafada.
Origem controlada.

Vou calado.
Volto repetindo.
Porque ainda dá.
Pressão pesada.
Muitas perguntas.
N.d.a.

Eles querem.
Eu também quero.
Eles erram.
Eu me ferro.
A dor é aqui.
Penso, logo egoísto.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Taurino

Minha cabeça dura tamanha
aumenta o diâmetro do meu não,
quando insisto que não.

Meus pés fincados na terra

pensando muito antes de pular,
procurando motivos para a impulsão.

Meus olhos olhando tudo,

ganhando em troca do que é belo,
dando todo o meu coração.

Meu caminhar ao passar

ou ainda a minha forma de olhar,
trazem a inconsciência d'uma sedução.

Meu trabalhar por dentro,

procurando a todo momento
um modo interno meu de criação.

São os astros que dizem assim,

eles estão sempre acima de mim,
mesmo quando eu insisto que não.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O isolamento lírico segundo o sapateiro

A solidão não é obra de apenas um
O sapato é o relacionamento
O cadarço da situação pode estar amarrado ou não
O cadarço perde a função sem o sapato
O cadarço tem sempre duas pontas
São duas pontas para se dar o nó
O cadarço desamarrado são duas pontas solitárias,
ainda que unidas.