segunda-feira, 30 de junho de 2014

Cara de espelho

Você, com cara de espelho
Me apontando o dedo
Me deixando tenso
Me isolando no meio
Meio sem ter o que falar

Você, espera a minha falha
E assim você me cala
E assim não faço rima
E com você assim em cima
Eu continuo sempre a errar

Quem sabe, eu, sozinho no mundo
O meu mundo seria maior
E ao invés de me sentir pior
Melhor ter ninguém pra me retratar 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Manipulação

Uma mão no fogo não manipula;
é manipulada.
Com uma mão na testa febril, 
a temperatura de fogo é testada.
Uma mão e uma arma de fogo
anulam outra mão por nada.
Uma mão não ajuda outra mão
na mão contrária.
Uma mão contrária pode ser apenas
um aperto de mão solidária.
Dar uma mão em vida pode ser
para carregar uma urna funerária.
Trocar um pé pela mão não dá pé,
dá palmada.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A voz da minha terra

Não consegui falar o português do branco.
Não consegui ser o brasileiro sem voz.
Só consegui usar o meu olhar pau-brasil.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Amor-perfeito

A voz que ouve
A mão que apara
A boca que se torna beijo
O abraço que respeita o respirar

Ou como definiu o botânico
que se apaixonou pela flor:
Amor-perfeito!

terça-feira, 17 de junho de 2014

A fantasia do virgem

olhar de chicote que castiga
mãos de algemas que não prendem
pernas de cinta liga que não mostram pele
decote de grande erosão, de pura ilusão

um filme passa diante dos olhos
chegou a hora de morrer
o filme vai acabar
morrer virgem
era o papel dela
a mocinha
era o meu papel
o figurante
era de papel
a revista

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Laboratório de ofídios

Víbora, sangue frio, dentro do homem, dorme
Se aquecida, a fosseta nasal, explode
Curtindo o veneno envenena o hospedeiro
Mesmo surda, uma palavra, um bote

Seja urbano homem nu
Ao cruzar o seu caminho 
Urutu cruzeiro
Seja silvícola homem cru
Pelo ouvido vai seu silvo
Intravaidoso veneno

A peçonha é potente e potencial
Não pisar no rabo é providencial
Nem todo espécime é preservado num jarro
Nem todo perigo é visto atrás de vidro claro
Com luvas de pelica, manusear
Pelica da mesma víbora, escapar


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Demonha

De dedos tão longos,
tais tentáculos, ela me alcança
De cabelos com vontade
tão Medusa, ela os lança

Pele tão escarlate para neutralizar 
qualquer gosto, qualquer cor
Pelos pubianos, sede do abocanhar,
ao invés da boca, uma boceta-flor

Só de pensar, enrijeço
Só ao pulsar, se mereço
Queimar no inferno que se forma
Que me consome à sua volta

Essa mulher, corpo quase presente
Essa mesma que toma minha mente
Mais do que um corpo, o ato
Mas de fato, o desejo inalcançado

Minha cama em chamas
Meu sonho  me chama
E eu chamo de meu
Um desejo que me escolheu 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Viagem para Belém (PA) - Maio 2014

Nascer-do-sol no Rio Guamá.

Ilha de Cotijuba.

Pôr-do-sol na Ilha de Mosqueiro.

Palacete Bolonha.

Ilha de Cotijuba.

Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré.

Ilha de Cotijuba.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Eu não tenho que

Tenho que lembrar que eu não tenho que.
Tenho que lembrar que eu não quero queijo.
Tenho que lamber o queijo como consequência.
Tento comer que camembert eu tiver que.
Tento lamber ou comer o camembert queijo.
Tenho  que comer bem o queijo que convier.
Tenho um tento para comer o que tiver que.
Tenho o quê? Queijo. O queijo que tiver que.
Nem tento o queijo. Nem tenho que.