sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Uma carga da memória

Pesam os olhares que me seguem
então pesam as minhas pernas
se digo alguma coisa pesada
sei que alguém fica pra trás

mas a memória me persegue

Pensam que são os melhores
aqueles todos que estão vivos
se esforçam para serem assim
sabem que alguma coisa perdem

a memória é uma palmatória

Passam arrependidos por mim
curvados apenas por disfarce
o meu cajado não é pesado
pra me dar o poder de perdoar

a memória é metade da culpa

Queria uma nova oportunidade
poder usar um apagador na fala
errar faz um bem pra humildade
apagar faz remediar a memória

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Pedido depois da vida longa

nem a urna funerária
nem as flores mortas me servem
nem mesmo a tumba serve de vaso
pois já nada planto para crescer

me marquei com a raiva
e isso prova que vivi
vivi magoado
e me sentia vivo
foram mil e doze dores
e duas mil e dezessete alegrias

soltei gargalhadas a mais
sendo assim posso pedir risos in memoriam

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Bem humano

digo isso pra ouvir aquilo
agrido mesmo sem grito
mesmo sussurrando
me distraio feliz
com outra pessoa
mas estou me procurando

admito por fora
o que por dentro me mata
vou acumulando
melhoro a cada dia
as horas eu conto
os minutos me descontando

nem entendo a dor
nem a troca da abelha
e da flor
nem sei sentir
sem pensar no QI
me sinto bem humano

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O distraído

O distraído não sofre
Somente sofre a morte
Sem saber

Saber é morrer antes
Perecer no pensar
Apodrecer

O distraído não sabe
Só sabe que a sorte
É leveza do ser

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A paciência que cura

Ah, meu couro cheio de balas
de raspão passa a minha sorte
eu que acredito em destino
sei que acreditar nada muda
nem trajetória, nem história,
e como mudar de couro
só se aplica às víboras,
uso o meu lento veneno
e me lambendo me curo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Mais um erro

vou errar amanhã
ainda hoje
ou dentro de poucas palavras

vou tentar conviver comigo
até acertar o meu próprio umbigo

você já pode ir
sem olhar pra trás
não há momento certo

estou cansado de errar
o meu erro só existe
por você existir
pra julgar

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Metade da realidade

A pessoa dos teus sonhos
vai dizer o que queres ouvir.
A pessoa verdadeira
vai mostrar-te a realidade.

Queres que os ovos
sejam todos de ouro.
Queres que os biscoitos
sejam todos da sorte.
Queres que as lágrimas
sejam doces.

O oposto vai continuar sendo
uma das metades de tudo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Aquelas coisas

aquelas coisas que você não diz
nem pra si mesmo
aquelas coisas que as palavras
distorceriam
aquelas coisas com o título
de segredo

você é todas aquelas coisas
envoltas em roupas e currículos
você é todas as camadas
de várias verdades

e ainda que muito falem de você
nem mesmo você chega a arranhar
todas as verdades
e quem disser que fala todas as verdades
também fala algumas mentiras

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Musa do conteúdo

Seu conteúdo é poesia
Não pare de se recitar
Cubra-me com a sua pele
Mas não se esvazie de si
Cubra-me com a sua pele
Só porque quero me sentir
Dentro

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O inferno é a primeira pessoa

A procura da pessoa melhor
é mirada no outro.
Se eu sou bom,
o outro também tem que ser.
Desde que não seja muito melhor
para não despertar a inveja.
Com a inveja fico pior
e a procura pelo melhor fica prejudicada.

Sigo procurando o melhor
com uma hipermetropia que piora.
Meu parâmetro sou eu, 
mas não me observo.
Sigo com o dedo em riste
e sem espelho.
A procura da pessoa melhor
parece ser terceirizada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Você pode ser

pode ser dor
desde que tenha fim
algo como a saudade

pode ser lenta
e escorrer como lágrima
de alegria

pode ser falso infarto
de coração disparado
parado na garganta

pode ser ansiedade
que vira saciedade
ao te ver

pode ser qualquer pessoa
que eu já sei 
que a única é você

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Sede de respostas

engolir o que está fora do copo
é mais seco
chegar até o fundo do poço
é amargo
o fundo do copo de rabo de galo
é distorcido
a água não pode lavar tudo
é apenas uma resposta clara

dureza não é ser incapaz de voar
dureza é se achar preso à terra

o rótulo da garrafa não diz tudo
o conteúdo não condiz com a sede
você solta a língua e tudo diz
e a memória insiste na realidade

secura não é ser incapaz de beber
secura é achar aridez na resposta

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O limite da pessoa

Melhor tirar da pessoa a melhor palavra
Cruzar com a pessoa o melhor olhar
Perceber até onde a pessoa é boa
Seja a pessoa humana até onde for bom humanizar

Um limite é um grito
O chão é a falência
A intriga é fria seringa
Que tira a peçonha da pessoa
De onde até não se sabia
Um potencial é um mal
Se espreita escondido
Armado o ser é desalmado

O que resta da pessoa
Depois de ser testada
É pouca coisa boa
É uma careta enrugada



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Vida de músico

nota destilada
entre o copo e o acorde
rabisco no papel
um gole que bata forte

dose distorcida
faz até gemer a voz
aquece aquela dor
tira o melhor de nós

tudo que é afinado
consola o coração
até guitarra tem ressaca
com solo ou não

a vida de músico
um vampiro pela noite
o álcool embeleza
alma nua no holofote

um brinde 
um blues
um brandy
um bis

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Editor do passado

saudade é boa no fim
gente fica bem abraçada
foto boa é na hora
intervalos são desencontros

quero te ver de novo
com o rosto velho de antes
sem novidades que corrijam
o que eu sentia que era certo

quero tudo de novo
tão velho quanto possível
viver a ilusão de voltar
as pessoas passadas que fomos

eu não era feliz
e não sabia
eu filtrei as verdades que doem
hoje sou editor do passado 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Presente de aniversário (14/05/73)

nem mesmo os números são exatos
eles se dividem em decimais
e se a conta não fecha em vida
não podemos dar o troco redondo

14 ouvi dizer que dá 05
05 ouvi dizer que é depressão
73 dá 10 ou 05 duas vezes
e não neutraliza o meu 05

não vou me deprimir por isso
não penso matematicamente
sou do contra ou sou noves fora
se me querem deprimido
não vou me matar de forma clássica
a própria vida vai dar cabo de mim

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Deixando a morte no asfalto

Um motor potente de fato
só me faz comer asfalto
sem degustar a paisagem.
Minha única pressa
é de chegar lá no topo
para parar e observar.
Onde o ar é rarefeito;
onde tudo é mais lento;
onde até a morte perde o fôlego.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Hoje, humano, amanhã.

Hoje, deixei a traça viver.
Amanhã, poderei fechar o livro com raiva.
A pressa me faz ignorar outrem.
Outra pessoa que amanhã deixarei passar.

Só copie a minha melhor metade.
Tenho tudo dentro de mim.
Então, qualquer coisa pode vazar.
Sou modelo do que é real.
Então, acostume-se com raios num dia de sol.

O prato de hoje cozinho com gosto.
Amanhã, tudo pode estar marinado no veneno.
Hoje, farei de tudo para sobreviver bem.
Pra compensar, amanhã matarei dois leões.
Posso perder minha prata, se hoje tenho ouro.
Amanhã, não abrirei mão do meu cobre.

Amanhã, poderei dizer o que teria escrito hoje.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Ao mostrar a cara

um soco não chega tão fundo
eu uso uma palavra ou duas
não vou te convencer de nada
o seu pré conceito chegou antes
é mais fácil não admitir o erro
e dizer que o mundo está errado

você decorou a piada ferina
vai continuar contando e rindo
alguém vai rir pela primeira vez
vai continuar doutrinando as crias

uma escola distorcida
uma lousa ensanguentada
nada é arte quando amarra
pintar a cara vale
quando a cara embaixo está limpa

terça-feira, 7 de julho de 2015

A tentativa e o tempo

a guerra está sempre encardida
mesmo para quem ganha
a vitória é mesmo do dia
que se disfarça de noite
até poder recomeçar
e recomeço é cara lavada

a morte está sempre na esquina
mesmo para quem ama
a vitória vem ao não dobrar
mas o disfarce é sutil
é difícil de perceber
melhor se deixar distrair

a tentativa é apenas remédio
mesmo para quem barganha
a vitória é passageira na vida
de quem logo vai tombar
ganhamos um pouco de tempo
mas nada sabemos
e perdemos no novo tentar

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O vira-latas, você e eu

Entre o poste e a lixeira,
o vira-latas quer se satisfazer tanto quanto eu.
Porém, eu pelo meu lado,
quero saber do que é feito o poste.
Quero entender o porquê de tanto lixo.
E já te julgo antes mesmo de te cheirar.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Só um pouco

Deixam a sujeira num cantinho do mundo
pra alguém recolher.
Embaixo do tapete também é mundo,
veja só você!
Na verdade, a sujeira não sai do mundo;
nem eu nem você.
Bem, existe um lugar chamado lixeira
que é o resto do ter.
Tenha um pouco menos
que eu quero ver.
Tenha um pouco menos
que pouco vou ver.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O entrevistado

Sou fraco
como a pedra pode ser sedimentar
Só atiro
se estiver munido de vontade
Não preciso de balas

Sou tão normal
quanto o limite da normalidade possa se esticar
Só viro bicho
se estiver cercado por criaturas mais bizarras
munidas de falas

Sou tão misterioso
quanto qualquer entrevistado
Só quem tem o que revelar é entrevistado
Qual é o mistério?
Qual era mesmo a pergunta?

quarta-feira, 10 de junho de 2015

...E chamam o verde de louro!


Vida circular

eu-ter-vontade
é o mundo me testando
eu-fazer-minha-vontade
é o meu mundo se criando

e ele gira, gira, gira
sem vontade própria
alguém atira, atira, atira
em defesa dessa órbita
e diz o que queria
o que eu não deveria
e grita, grita, grita
a sua ideia torta

eu-ter-vontade
é a parte de ser humano
você-outra-vontade
é a outra parte do plano

e ele vai dar certo
quando finalmente der
e ele é perfeito
se o imperfeito quiser
aquele de todo dia
aquele que vem ao léu
perfeito como a vida
que um dia morreu

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Sendo incompleto

Nem todo mundo quer
a teimosia de ser martelo.
Nem todo mundo quer 
o sofrimento de ser prego.
Ser, inclui ser imperfeito,
sem nunca conseguir inflar
completamente o ego.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Uma parede anti-social

Não tenho nenhum trato social
Nem mesmo social é o sapato
Ter mesmo, eu tenho pouco
Ser, eu sou louco analisado
Eu erro por estar tão distante
Expectativa errante na mira
Se sou incongruente demais
Nem bom rapaz, nem flores
Cativo o que creio e me animo
Já não rimo só pra ficar bonito
Poderia dizer mais neste bloco
Mas toda parede é anti-social

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Ainda há tempo

errei no peso da mão;
vim a escutar com os ouvidos armados;
simplesmente olhei, ao invés de observar;
engoli o veneno;
me deixei entoxicar pelo cheiro.

que os segundos que ainda me faltam,
sejam de acertos que valem por anos.

ainda há o que lavar;
ainda há boa música;
um freio antes de julgar;
nem tudo é alimento;
o último aroma do dia é a dama-da-noite.

que os segundos que ainda me faltam,
sejam de reciclagem ainda em vida.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A empatia da mesma dor

É preciso sentir a dor adequada
para ver as cores,
para perceber entrelinhas,
para ouvir o tom correto.
A dor adequada alivia a própria dor
ao entender.
Para entender é preciso sangrar a mesma
cor de quem pinta.
Cada sentir requer de quem sente
uma dor distinta.
Cada poeta segue incompleto
sem um tom de tinta.

De qualquer forma,
mesmo sem forma,
sem seguir a norma,
quem lê e sente
completa a rima.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O burro

Eu não sei falar
pra dentro de ouvidos que dão tantas voltas.
Eu não sei falar
pra dentro de cabeças que sejam outras.
Eu não sei falar
muito bem pra quem é de cristal puro.
Eu não sei falar
muito bem, meu bem, eu somente urro.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Paródia dessa vida


nada se tira,
a não ser o nosso corpo de lugar
nada se leva,
a não ser algumas voláteis lições
nada se mata,
a não ser algumas poucas curiosidades
nada se deixa,
a não ser pessoas em meio às suas missões

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Maturidade temporária

De tanto insistir que era jovem,
a ideia envelheceu.
Não importa a estampa da camiseta;
é a cabeça que vem descoberta.
Os jeans também envelhecem
e tornam o conteúdo mais confortável.

Não pareço mais confiável de terno,
nem pareço mais respeitável de cabelo cortado;
sou mais eu, quando nu,
não consigo nem a vergonha esconder.

Não envelheço para ser apresentável.
Não me esqueço que posso morrer de vergonha.
A maturidade me dá  falsa segurança.
Sigo seguro de que os erros também envelhecem.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Lágrimas de jacaré

Ô, pedaço de coisa certa,
o resto sou eu!
Ô, gente tão certa que
coloca na conta do Abreu!

Não foi um furo meu;
foi acerto de outro!
Não estava envolvido;
estava revolvendo por dentro!
Não é culpa de ninguém;
desde que não seja culpa minha!
Não sou eu que você vê;
ilusão é não sair da linha!

Todos fazem;
eu faço também!
Todos erram;
eu, fraco também!
Todos fortes;
estou com eles!
Todos afundam;
choro por eles!

Minhas lágrimas de jacaré
não alteram o nível do pântano.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Trem perdido


Estou vivo!
Sofro!
Tudo entra pelo ouvido!
Toda batida do coração
pode deixar o coração partido.

Não leem!
Sofro!
Tudo passa mas não veem!
Todo amontoado de letras
não passa de perdido trem!

terça-feira, 14 de abril de 2015

Enter errado

aquela pessoa que era
antes de ser digital
aquela pessoa que erra
antes de ser digital
aquela pessoa fera
atrás do monitor
aquela pessoa fere
atrás do monitor
aquela pessoa sendo monitorada
aquela pessoa sem pudor
aquela pessoa sendo maltratada
aquela pessoa sem pedir
vai dando opinião
vai dando o que falar
vai dando tudo
vai dando furo
vai mal interpretada
onde vai parar
vai pra lixeira
enter
bloqueada
enterrada

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Entitulado: Pior

os carrapatos me querem pelo meu sangue
as pernas doem por tudo que andaram antes
o cérebro inchado só aparece como figurante
o que falo chega ribombar de tão redundante

os calos não calam outros ais
os calos calejam ainda mais

estou pior
estou perto
quem sabe qual a distância
para o que é melhor
quem sabe o tamanho da curva
e o que vai se interpor

sexta-feira, 27 de março de 2015

Contradizendo

adoro como fazem vinho
odeio quando chamam o acidente de vinagre
adoro o toque da seda
odeio saber que a minha mão pode rasga-la
adoro a crítica na poesia
já ofender de graça não é licença poética
adoro como inventamos a cura
porém manipulamos o veneno sem dosar
adoro que você saiba falar bem
mas sei que você também sabe gritar
adoro que possamos criar meios
mas sei que os meios são a metade do fim

sexta-feira, 6 de março de 2015

Sanfoneiro

gomo furado de bambu ao vento
um assovio tem nota alta no conceito
bambu e assovio viram pifo no pensamento

sentado na porta de casa
o ranger da dobradiça sola
no gemer do fole
cada mazela da vida seca
vira rima de cordel
entre um e outro gole

arrasta-pé
faz poeira
arrasta fraqueza
faz vivê-la

não tenha dó
tenha respeito
dó em si
é ré na vida

segunda-feira, 2 de março de 2015

Atropelo de palavras

Dirijo uma arma e cuspo balas
que quebrariam leis se colidissem:
são minhas palavras tortas
no vácuo de outro infrator.

Não arranham lataria,
não dão lição alguma.
Às vezes, ricocheteiam
e tiram tinta do meu ego.

No fim, morrem no asfalto
abafadas pelos motores,
ou por algum saco plástico
usado para cobrir cadáveres.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A matéria do dia

Hoje, sou feito de impaciência,
aguardando para saber do que serei feito amanhã.
Gasto o meu peito, de ansiedade, cheio,
mesmo sabendo que a noite esvazia o dia,
e amanhecemos mais velhos,
refeitos, porém, de novos estofos.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Combustível palavra

Escolho as pessoas
escolho as palavras
erram as pessoas
não escolho palavras

Erro nas palavras
me escapam pessoas
me excluem as pessoas
me sobram as palavras

Me meto com palavras
me criticam as pessoas
meto palavras nas pessoas
pessoas movidas à palavras

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Para não chover no molhado

A chuva pode ser linda
vista de lado
não de dentro.
A chuva pode ser usada
por outro lado
como unguento.
A chuva pode ser cálida
quando cala
o sentimento.
A chuva segue molhada
se cai ou não
se tento ou não tento.

Chove onde molha fácil
onde conheço.
Tento onde posso errar
outro preço.
Não me poupe
vem chuva jorre.
Bebendo da fonte
não há porre.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Corpos estranhos

meu nariz vai empinado
desafiando a gravidade
minhas raízes não podem aparecer
e revelar a minha idade
meus lábios carnudos
não estão cheios de carne
meus dentes são mais brancos
do que 3D ou a realidade
minha testa preenchida não atesta
o que expresso de verdade

estou tanquinho posso ir do porco aos anjos
estou sendo possuído por corpos estranhos
estou sem dentes indo por estranhos brejos
extraindo banhas pra inflar outros tamanhos

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Anti-rugas

O corpo vai perdendo o fogo;
a mão vai perder o braço no jogo;
porém, ainda se agarra à vida.

O olho vai perdendo o foco;
os pés já se levantam pouco;
porém, o couro ainda se estica.

A memória já não é de ouro;
bater forte no peito é raro;
com dor, o grito de guerra, ainda.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Diário da sobrevivência

Estou cheio de coisas que me deixam oco
Chega de almofadas que abafam tiros
Chega de lírios que cheiram a socos

No meio do homem existe um filho bom
No mesmo meio pode se criar o mal
No meio natural sobreviver é fatal

Estou cercado de presas que sabem caçar
Qual é a arma do homem sem limite
Que transita entre morrer ou matar  

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Os meus erros

Os olhos nas pontas dos meus dedos
tendem a se machucar demasiado
Tenho que observar mais
antes de tocar

Os medos nas pontas dos meus cabelos
me fazem ficar arrepiado
Tenho que aparar mais
essas pontas

Os chifres que insistem em crescer
na minha cabeça dura
me fazem insistir passar
pela porta estreita
Os sorrisos que eu não queria dar
brotam por educação
dos meus lábios mal educados
que falam só por ironia
Os meus pés pisam sem dó apressados
mesmo sem precisar de pressa
porque eu tenho que chegar
onde não me julguem apressado

Os meus erros de ontem sem repetição
não são melhores hoje 
para que eu possa surpreender
aperfeiçoando as desculpas

Os meus erros não são nada iguais
às palavras que escrevo
pois a ortografia escapa da poesia marginal
que é a vida cheia de falas